segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Sobre a solidão



Foi uma conversa profunda, rodeada pelo barulho indistinto das caixas de som. Dentro estava pior. Vários pensamentos aparecem ao mesmo tempo, nenhum se instala. É uma bagunça imensa. Gritar talvez resolvesse, mas não é um momento apropriado. Guarde. Limpe essa bagunça. A mente pensa, mas sabemos que não é só razão aqui. Uma pedra pesada dentro do estômago entrega a verdade. Não dá mais para acreditar nessa história de razão e de emoção, já tem algum tempo que aprendi que elas trabalham juntas. Só que o incômodo que a emoção provoca no corpo pode não ser gostoso de se sentir. Foram várias e várias madrugadas para perceber que ter “se jogado” em tantas histórias pode ter feito o presente, mas estava na hora de olhar pra frente. Como é possível continuar fazendo as mesmas escolhas? Por uma esperança que as coisas vão ser diferentes. Histórias se repetindo na sua vida, na vida dos vários alguéns que você já foi e será. É muito difícil deixar velhos hábitos para atrás quando você pensa no que poderia estar deixando de ter no futuro. E você se deixa levar. Quantas bocas é preciso beijar para se perceber que a solidão é sua única companhia? Sua única certeza. Sua única amiga. E, ainda assim, sempre foi meu maior medo. Todas essas pessoas que você ama. E aquelas que você quase amou. Por um segundo você disse que houve uma conexão especial, mas nada disso é verdade. Ninguém pode entender quem você é por dentro e por mais que cheguem perto, não é o bastante. Não dá para ignorar essa intuição. Ela sempre esteve aqui.

domingo, 9 de agosto de 2015

Telegrama - Zeca Baleiro



Eu tava triste
Tristinho!
Mais sem graça
Que a top-model magrela
Na passarela
Eu tava só
Sozinho!
Mais solitário
Que um paulistano
Que um canastrão
Na hora que cai o pano
Tava mais bobo
Que banda de rock
Que um palhaço
Do circo Vostok

Mas ontem
Eu recebi um Telegrama
Era você de Aracaju
Ou do Alabama
Dizendo:
Nêgo sinta-se feliz
Porque no mundo
Tem alguém que diz:
Que muito te ama!
Que tanto te ama!
Que muito muito te ama,
que tanto te ama!

Por isso hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria

Hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria

Mama! Oh Mama! Oh Mama!
Quero ser seu!
Quero ser seu!
Quero ser seu!
Quero ser seu papa!

Eu tava triste
Tristinho!
Mais sem graça
Que a top-model magrela
Na passarela
Eu tava só
Sozinho!
Mais solitário
Que um paulistano
Que um vilão
De filme mexicano
Tava mais bobo
Que banda de rock
E um palhaço
Do circo Vostok

Mas ontem
Eu recebi um Telegrama
Era você de Aracaju
Ou do Alabama
Dizendo:
Nego sinta-se feliz
Porque no mundo
Tem alguém que diz:
Que muito te ama!
Que tanto te ama!
Que muito te ama!
Que tanto, tanto te ama!

Por isso hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria

Hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria

Me dê a mão vamos sair
Pra ver o sol!

Mama! Oh Mama! Oh Mama!
Quero ser seu!
Quero ser seu!
Quero ser seu!
Quero ser seu papa!

Hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria

Mama! Oh Mama! Oh Mama!
Quero ser seu!
Quero ser seu!
Quero ser seu!
Quero ser seu papa!

"Me dê a mão vamos sair
Pra ver o sol"

Para aquecer

A noite estava escura. O céu cobria o vilarejo em cinza. Várias pessoas pelas ruas. Os sons dos carros competindo por atenção. Nada disso importa. O mar chama. Aqueles corpos vão atender seu clamor. A pele sente o frio que o vento traz, a areia ainda úmida sob os pés descalços. Sal e metal, sabores que queimam as narinas. Um passo, uma marola. Dois passos, água até os tornozelos. Três, quatro, cinco... quarenta passos, quadris molhados. A água está quente. É possível sentir a energia do sol que já se pôs. Essa energia agora é dos corpos. Eles mergulham até cobrir o último fio de cabelo. À emersão, as roupas grudam-se à pele, desenhando-a. Uma corrida até a areia. Uma corrida pela areia, para aquecer.