sábado, 3 de dezembro de 2016

Diálogos de um sábado qualquer

- Oi, tudo bem?
- Quanto tempo não é mesmo?

Risos sem graça. Abraços sem jeito.

Mas... será que você não estranha esse distanciamento? Será que as vezes não sente essa vontade que eu sinto de te fazer um cafuné?
Por que não faço?
Ah, sabe como é... tem uma certa convenção social que fala que não é tão legal ficar por aí afagando a cabeça de outras pessoas assim, do nada.
Não me olha assim.
Eu sei que não devia me importar com esse tipo de coisa, mas eu também não devia sentir esses desejos.

Só que hoje eu quando eu abri meus olhos, você foi a primeira coisa que eu pensei. Estranho né?
Quer dizer.. de certa forma, suponho que seja natural. 
Na verdade hoje eu acordei e eram seus olhos vendo o mundo. Hoje acordei um pouco você. E eu gosto disso. De me perder um pouco.
Mas eu queria te fazer uma pergunta.

Deixa eu bagunçar você?


- Bom te ver.
- A gente vai se falando.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Ipês

Primeiro eu gritei. Comigo e com o mundo. Depois veio o nada. Olhei através da janela: as grades mais do que nunca se tornavam parte principal da paisagem. Buscava beleza, algo em que me agarrar. Mas tudo era cinza. Onde outrora havia uma alameda de ipês rosas, agora só restavam galhos secos, sem uma folha sequer. Pensei em desistir dos planos. Desisti de um. Ou dois. Mas continuei com outros e segui. Depois, veio a calma. Ah, a calma. Quão deliciosa é essa perspectiva.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Honestidade

Há algum tempo venho sacrificando a mim mesma em prol de ser uma adulta. Demorei um tempo para perceber isso. Mas um dia eu parei, olhei bem para mim mesma e pensei em quanto eu havia mudado. Me orgulhei do meu “amadurecimento” por um tempo, mas a verdade é que nem tudo foram flores. Onde estavam meus momentos de abstração? De sonhos sem sentidos? De imaginar situações loucas? De imaginar dramas pessoais que me levam a uma catarse? Cadê o momento choro-purificação semanal? Cadê as danças noturnas no pijama? Onde está o momento de ouvir o barulho das folhas secas sob os pés? Onde estava cada pequena coisa que me fazia eu, pelo menos para mim. Era como se eu fosse só um corpo, cumprindo suas tarefas. Uma casca oca. Muitas coisas precisaram acontecer para eu perceber o quão perdida eu estava (e ainda estou). E tentar retomar cada pequena ação diária que faz eu me sentir tão bem. É engraçado pensar isso porque com toda essa febre de signo, eu diria que é contra minha natureza pisciana não sonhar, não me abstrair da realidade. Eu diria isso, claro, se eu acreditasse nisso. Talvez tenha sido um processo de adaptação a novas realidades, responsabilidades, a aprender a lidar com a solidão de ser um humano.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Lágrimas no estudante

O que fazer quando só há a dor? Quando a solidão te assola? Quando quem você mais ama tem outras preocupações? Quando seus melhores amigos estão tão cansados quanto você? Quando quem poderia te consolar só é capaz de dizer "é, hoje meu dia foi difícil também"? Quando não há tempo para lágrimas? Ah... as lágrimas! Sempre me lembro da fala de uma amiga, certo dia, dizendo que entre choros e soluços, de cansaço, se pôs a estudar pensando que o estudante de medicina precisava chorar estudando, dado nosso tão pouco tempo livre. Cada dia mais tenho certeza disso. Do tempo que me falta pra chorar. E da culpa que sinto em meio a dor. "Eu sei que não devia estar chorando. Preciso estudar". Essa semana uma professora usou a expressão "intensificação do ritmo de trabalho", talvez o mais correto fosse "intensificação do ritmo de vida". Não há tempo N-E-M-P-R-A-C-H-O-R-A-R! Acho que é a culpa que nos consome. A vontade de ser melhor, mesmo já dando o melhor de si. Nunca é o que "no que você é bom?", mas sempre "no que você não é?". Na rua estão todos bem, será que em casa eles choram também?
O que te falta? Em mim, a liberdade. Que minhas lágrimas tenham o direito de rolar face abaixo, sem se incomodar se molharam o livro!