segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Oceano

Não queria me sentir assim, como uma adolescente em crise. Mas uma parte em mim insiste em reviver o passado. Meu grande pecado. Me prender a todas essas coisas. Como todas aquelas cartas e fotos antigas. Mais de um amigo me disse que era deprimente guardar aquilo. Quanto apego! Mas o passado também é parte de mim. Que me faz ser seja lá o que eu for.
Gosto dessa perspectiva, meus dedos deslizando pelo teclado. É uma confissão horrível. Uma traição ao movimento. Mas escrever numa folha com um lápis, sempre foi mais sofrimento que libertação. Aqui não, o infinito se estende diante de mim. O barulho do teclado é como se concentrar na própria respiração enquanto se medita.
Mas eu estava falando sobre o passado e como é perigoso sair pra nadar nas lembranças. Encontrar o ponto de equilíbrio temporal é o desafio. Carpe diem, eles dizem. Eu tento, desesperadamente. Carpe diem é minha oração. Por um tempo. Depois fica vazio demais. Quando você joga fora o passado todo dia e Carpe diem, quando você não pensa sobre o futuro e carpe diem, o que sobra? Agora é só o que você é. Só o que você tem. Ser é maravilhoso. Mas se não tiver passado ou futuro, talvez você também só esteja. À deriva, no oceano presente. Tantos náufragos ao redor. Posso sentí-los. Espero que tenham tábuas.

domingo, 29 de janeiro de 2017

1 segundo

O brilho da noite se esgueira pela janela. O vidro completamente transparente permite a entrada de uma luz amarelada. O quarto tem sua escuridão violada. O céu, por outro lado, esconde suas estrelas. Uma música toca ao fundo, mas quase não posso ouví-la. Concentro-me no som da minha respiração. O ar percorre as vias aéreas e preenche os pulmões. O universo se expande em mim e depois vai embora. O cheiro de incenso alimenta minha mente e ataca minha rinite. A cidade silencia. Quantos dormem, enquanto o universo os nina?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Nota sobre o fim das férias

Morar fora é como destruir um pedacinho de si mesma para caber a nova pessoa que tu é. Estar na terra natal é como estar envolto nos braços da tua mãe. Só que isso também não é mais suficiente, porque tu sente saudades da nova casa. Mas ao chegar lá, teu coração fica vazio. Ah... essa primeira noite é sempre a mais triste. Nenhuma música, nenhum filme ou mesmo um livro enriquece a solidão. Porque tem toda esta saudade no peito. Nada nem ninguém é capaz de preencher o espaço deixado por aquele você que já não existe.