Não queria me sentir assim, como
uma adolescente em crise. Mas uma parte em mim insiste em reviver o passado.
Meu grande pecado. Me prender a todas essas coisas. Como todas aquelas cartas e
fotos antigas. Mais de um amigo me disse que era deprimente guardar aquilo.
Quanto apego! Mas o passado também é parte de mim. Que me faz ser seja lá o
que eu for.
Gosto dessa perspectiva, meus
dedos deslizando pelo teclado. É uma confissão horrível. Uma traição ao
movimento. Mas escrever numa folha com um lápis, sempre foi mais sofrimento que
libertação. Aqui não, o infinito se estende diante de mim. O barulho do teclado
é como se concentrar na própria respiração enquanto se medita.
Mas eu estava falando sobre o
passado e como é perigoso sair pra nadar nas lembranças. Encontrar o ponto de
equilíbrio temporal é o desafio. Carpe diem, eles dizem. Eu tento, desesperadamente. Carpe
diem é minha oração. Por um tempo. Depois fica vazio demais. Quando você joga
fora o passado todo dia e Carpe diem, quando você não pensa sobre o futuro e carpe diem, o que sobra? Agora é só o que
você é. Só o que você tem. Ser é maravilhoso. Mas se não tiver passado ou futuro, talvez você também só esteja. À deriva, no oceano presente. Tantos náufragos
ao redor. Posso sentí-los. Espero que tenham tábuas.