segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Oceano

Não queria me sentir assim, como uma adolescente em crise. Mas uma parte em mim insiste em reviver o passado. Meu grande pecado. Me prender a todas essas coisas. Como todas aquelas cartas e fotos antigas. Mais de um amigo me disse que era deprimente guardar aquilo. Quanto apego! Mas o passado também é parte de mim. Que me faz ser seja lá o que eu for.
Gosto dessa perspectiva, meus dedos deslizando pelo teclado. É uma confissão horrível. Uma traição ao movimento. Mas escrever numa folha com um lápis, sempre foi mais sofrimento que libertação. Aqui não, o infinito se estende diante de mim. O barulho do teclado é como se concentrar na própria respiração enquanto se medita.
Mas eu estava falando sobre o passado e como é perigoso sair pra nadar nas lembranças. Encontrar o ponto de equilíbrio temporal é o desafio. Carpe diem, eles dizem. Eu tento, desesperadamente. Carpe diem é minha oração. Por um tempo. Depois fica vazio demais. Quando você joga fora o passado todo dia e Carpe diem, quando você não pensa sobre o futuro e carpe diem, o que sobra? Agora é só o que você é. Só o que você tem. Ser é maravilhoso. Mas se não tiver passado ou futuro, talvez você também só esteja. À deriva, no oceano presente. Tantos náufragos ao redor. Posso sentí-los. Espero que tenham tábuas.

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